Engraxate é aprovado no Exame de Ordem

O vai e vem de advogados na porta dos tribunais de Goiânia chamou a atenção do engraxate Joaquim Pereira, de 26 anos, que queria se estabelecer em um ponto onde tivesse muitos clientes. A ambição e os planos, no entanto, acabaram mudando. As conversas entre uma engraxada e outra fizeram Joaquim decidir seguir carreira na área jurídica.

Ele prestou vestibular, ingressou em uma faculdade de Direito e se formou com o dinheiro conquistado como engraxate. Na sequência cursou uma pós-graduação em Direito Público.

Nesta semana, oito anos após chegar a Goiânia, recebeu a notícia que está entre os aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, portanto, apto a advogar. “Foi uma conquista. Revejo a minha trajetória e sei que essa é mais uma etapa vencida na minha vida.” Joaquim nasceu em Monte Alegre de Goiás, a mais de 560 quilômetros de distância da capital.

Esta, entretanto, não foi a única tentativa de Joaquim. “Fiz várias vezes o exame antes mesmo de terminar o curso. Me formei em 2012 e desde então fui tentando, fui insistindo, como tudo que faço na vida, e consegui. Tive também o apoio dos meus pais que sempre me tranquilizaram”, conta.

Futuro

A profissão que rende até R$ 3 mil por mês a Joaquim será mantida até o final do ano. Para 2016, porém, uma nova meta já foi traçada: “Estudei muito, virei noites para conseguir passar no exame da ordem e agora quero curtir um pouco. Ano que vem pretendo começar a advogar e contribuir para uma sociedade melhor. Me preparei e espero que a minha vida tome novos rumos”, afirma.

Ao olhar para a caixa de engraxate, porém, as lembranças voltam à cabeça. “Representa um trampolim na minha vida. Foi onde tudo começou e de onde tirei grandes conquistas.”

Nem sempre foi assim. Quando chegou em Goiânia, em 2007, para morar com um dos irmãos, queria trabalhar em uma grande empresa. “Engraxar era a última coisa que eu queria fazer na vida.” Mesmo assim trouxe na bagagem o caixote com uma certeza: “Se tudo der errado, tenho como sobreviver. Vi que ganharia mais dinheiro como engraxate e voltei à profissão”.

Agora ele pretende continuar estudando para prestar concursos públicos. “Se tudo der certo, quem sabe não viro um desembargador?”

Incentivo

A iniciativa de Joaquim foi bem vista pelos clientes que, em diversas oportunidades, incentivaram o sonho do rapaz. Em outras vezes, a ajuda foi financeira. “As pessoas me apoiavam bastante, diziam para seguir em frente. Até mesmo alguns juizes me deram conselhos e diziam para pegar firme no estudo”, conta. “Outros me davam dinheiro, às vezes, e eram principalmente as pessoas mais humildes que contribuíam. Não era por pena. Era incentivo mesmo”. De um empresário recebeu durante quase todo o curso uma ajuda para os estudos.

Fonte: O Popular

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